05 março 2008

Team Maria de Lurdes - A propósito dos professores e da Ministra

É só para dizer que, mais vírgula menos vírgula, estou de acordo com a Ministra da Educação.
Força Maria de Lurdes!



Aqui nos comentários abaixo perguntaram porquê.

Porque acho que ninguém morre se ficar 35h no local de trabalho - até deviam ser 40h, porque ninguém morre por trabalhar 40h.
Porque já ouvi com estes ouvidos que a terra há-de entupir uma professora do ensino básico dizer com convicção que os alunos deviam escolher se querem continuar na escola. Quando acabassem a 4ª classe.
Porque não sou professora, mas sou aluna há mais de 20 anos e acho muito bem os alunos terem uma opinião a dar sobre os professores e se os professores acham que este facto lhes dá legitimidade para desatar a passar alunos a torto e a direito, então são desonestos e deviam ter vergonha de ensinar.
Porque me dá ganas de lhe saltar ao pescoço quando uma professora diz, a alto e bom som, "Ai, hoje estou exausta. Foi demais. Cheguei à escola ás 9 da manhã e só saí ás 6 da tarde.".
Porque concordo plenamente que os professores sejam avaliados - todos os trabalhadores o são, diariamente, no seu local de trabalho. Já chega os funcionários públicos terem um patrão sempre ausente.
Porque todos aqueles que já considerava bons professores antes desta salgalhada toda, coincidência das coincidências, até estão de acordo, na generalidade, com estas reformas.
Porque apesar de ser a favor dos feriados (i.e. uma hora livre porque o professor faltou), sou ainda mais a favor de uma escola que se preocupa com os seus alunos e que procura fazer aquilo para que existe: ensinar.
Porque é absolutamente inacreditável a facilidade, e quantidade, de vezes que os professores faltam. Mais ainda quando continuam a ser pagos a peso de ouro. E continuam a automaticamente progredir na carreira (don't even get me started on this).

E por muito mais coisas que não me vou alongar aqui.

Pode até ser que esta reforma esteja a ser implementada de uma forma desconchavada, mas as arestas limam-se depois. É preciso limpar isto de raíz mas, claro, com a quantidade de pó e de quinquilharia que se foi depositando no sistema de ensino português, é natural que muita gente tenha engolido um garfo.

27 comentários:

Leandro disse...

pq?! :)

Paula disse...

Hum... eu já elaboro! :)

Leandro disse...

ahah :) lol

Jorge disse...

pois... eu sou considerado como docente, apesar de ser contratado todos os anos como os meus colegas e não ter progressão na carreira. isso é porque o ensino artístico está ainda pior.

as 22h de horário lectivo são extenuantes quando dás 150% de ti em cada MINUTO dessas horas. é como tocar um concerto, não podemos ir beber um café a meio ou espreguiçar em frente aos alunos.

se fizeres as contas, vês que ganhamos cerca de 6 a 7 eur por hora. isto é vergonhoso. não é bem sermos pagos a peso de ouro.

e sobre a avaliação dos professores, se um professor precisa das boas notas dos alunos para ter uma boa classificação, obviamente que vai inflaccionar as notas e passar quem devia ser reprovado. é um incentivo à mediocridade, porque toda a gente vai passar e chegar à universidade sem saber ler nem escrever - ah, espera, isso já acontece... bom, vai ser pior :)

aconselho a passares um dia numa escola pública e seguires o dia de um professor. depois vem falar comigo :)

Jorge disse...

esqueci-me de dizer que, ao abrigo do artigo 102º, os docentes podem faltar no máximo 5 dias por ano a descontar no período de férias, sendo que apenas é permitido utilizar um desses dias por mês.

a facilidade com que os professores faltam é esta. para mais esclarecimentos, por favor contactar. :)

Paula disse...

Apesar de o ensino artístico ter contornos diferentes, em nada mudo o que escrevi.

22h de trabalho são extenuantes? e 40h? E que raio de presunção é essa de que quem trabalha 40h não dá 150% de si?

Ganhas 6 ou 7 eur/hora? Olha, eu ganho 5.3, tás melhor que eu. E outros com muitos mais anos de serviço ganham bem menos.

Dizer que um professor precisa de dar boas notas aos alunos para obter uma boa classificação é o mesmo que dizer que alguém que saiba somar 2+2 é excelente a Matemática. As notas que se dá aos alunos é um ponto no meio de outros tantos e, repetindo o que disse no post, se um professor acha correcto inflacionar notas e não assumir o seu papel, então é uma vergonha que esteja no lugar que está.

Não preciso de ir passar um dia a uma escola pública, já passei muitos e segui os professores. Provavelmente antes de tu dares aulas. Esses conselhos demagógicos pressupõe que eu não tenho 2 neurónios e que sou incapaz de tomar uma posição.

A facilidade com que os professores faltam é, em plena actividade lectiva, irem 15 dias para o estrangeiro passar férias, com a devida e escandalosa autorização prévia.

Acho muito bem o limite de 5 dias, mas, caso não saibas, esse limite é já do novo Estatudo da Carreira Docente, introduzido (e muito bem) por esta Ministra. Antes eram 12 dias.

Como vês não preciso de esclarecimentos da tua parte, estou bem informada.

Jorge disse...

22h DE HORÁRIO LECTIVO, em que estás no centro das atenções da aula. Fora disso, tens mais 10h de horário NÃO LECTIVO, como sendo reuniões, preparação de aulas e diversas burocracias que não vou agora referir. My point being: durante essas 22h não posso parar 5 minutos para ir beber um café ou espreguiçar as pernas. Sabemos do que estou a falar, certo?

Convenhamos que a diferença entre o que eu ganho e o que tu ganhas não é muita. Sendo assim, achas que és paga a peso de ouro também? Mas a discussão não é essa, o que está em causa é que se achas que os professores ganham mais do que deviam então a) confere os salários de políticos, profissionais da banca, jogadores de futebol e etc e b) vai lá fora e compara... no further questions, Your Honour.

Não acho correcto nem por sombras a inflação das notas dos alunos, como é óbvio. Mas é algo que inevitavelmente vai acontecer, especialmente em meios e turmas mais difíceis. A educação começa em casa, e os professores não têm culpa da má formação que esta geração tem vindo a ter.

Nunca quis dar a entender que não tivesses dois neurónios, simplesmente ninguém tem culpa de estar mal informado. Ou talvez alguém tenha culpa, os media que fazem campanhas de desinformação, especialmente os órgãos de comunicação afectos ao estado. Não eram conselhos demagógicos, eram pedidos de ajuda, porque se a população estivesse melhor informada poderiam ajudar-nos a combater esta injustiça que está prestes a abater-se sobre nós.

Não conheço nenhum professor da minha escola que tenha ido para o estrangeiro durante 15 dias em plena actividade lectiva, muito menos com autorização prévia. O limite de 5 dias é ANTERIOR ao novo estatuto da carreira docente, e antes eram 10 dias. Revê as tuas fontes.

E Paula, tanta hostilidade! Deriva exactamente de quê?

E já agora, também estás na team do ministério da saúde?

Paula disse...

Isso dá 32h de trabalho. Continuo a achar que 35h ou mesmo 40h não matam.

Continuo a dizer que ganham muito sim. Se não querem ganhar menos, então que trabalhem mais.

E porque é que vocês, professores, têm a mania que o resto da população está sempre "mal informada" ou são vítimas de "campanhas de desinformação" ou então, como já me disseram, "pronto, já te fizeram uma lavagem cerebral"?
Campanhas de desinformação fazem muitos dos professores com tantas queixas infundadas.

Até porque, aparentemente, quem precisa de rever as fontes és tu. O que até é triste, porque afinal quem é que está mal informado?
No que a mim me diz respeito, devias ter mais cuidado com as acusações - eu sei o que faço e sei onde ir buscar informação e, pelos vistos, faço-o melhor do que os professores.

Não que tenha que o fazer, aqui ficam as referências que, imagina só!, até são do Sindicato dos Professores do Norte:

Estatudo da Carreida Docente (ECD) ANTIGO:
Artigo 102º - 1. Os docentes podem faltar 12 dias úteis por ano, sendo a respectiva gestão da sua competência. [...]

ECD NOVO (19 Janeiro 2007 - Relembro que este Governo entrou em funções em dois mil e CINCO(2005)):
Artigo 102º - 1. O docente pode faltar um dia útil por mês, por conta do período de férias, até ao limite de cinco dias úteis por ano.[...]

Mas como podes duvidar destas fontes por serem de um sindicato, e para que possas questionar a credibilidade das tuas referências, aqui tens, preto no branco, retirado da página do Ministério da Educação:
"As faltas por conta do período de férias podem ser dadas no tempo lectivo?
Sim, desde que não ultrapassem 1 dia útil por mês até ao limite de 5 dias úteis por ano. Actualmente, os professores podiam faltar 1 dia útil por mês até ao limite de 12 dias úteis por ano. Atendendo a que a lei fixa o período do ano em que os professores podem gozar férias e a falta de um professor deixa os alunos sem aulas, impunha-se esta redução."

Sabes que na investigação, ciêntifica no meu caso, referências são fundamentais. Chama-lhe defeito de profissão, if you will.


Hostilidade? Porque discordo destas manifestações todas e desta bandalhice toda a propósito de reformas que considero fundamentais? Não. Ao ver telejornais noto até que o meu tom é mais soft do que muitos dos professores que berram nos megafones.

Leandro disse...

...the end!
eu comecei isto tudo por isso achei por bem acabar :)
eu quando perguntei "pq?" era... enfim, nao queria saber mesmo, era um... "norwegian why". Mas tudo bem :)

Anónimo disse...

DEFENDER A ESCOLA PÚBLICA
Os signatários deste manifesto consideram que a violenta ofensiva contra os direitos dos professores e educadores, sob o pretexto de combate ao défice, acompanhada de uma campanha caluniosa de desconsideração e ofensa social dos docentes, conduziu à situação de profundo descontentamento e desmotivação que se vive actualmente nas escolas.(...)
A ofensiva em curso vem sendo agravada por novas medidas que permanentemente retiram direitos, subvertem o conteúdo e objectivos da profissão docente e contribuem para a degradação da escola pública, que mais do que nunca tem que se afirmar como uma instituição de progresso e transformação.
(...)
Esta ofensiva não é apenas contra os direitos constitucionais e contratuais dos professores e educadores, surge num quadro mais global de desresponsabilização do Estado nas suas funções sociais e serviços públicos, pondo em causa o sistema educativo, a formação dos jovens e o desenvolvimento técnico e científico do País.
(...)
O actual governo, sustentado pela sua maioria na Assembleia da República, tem implementado, em todas as áreas da vida nacional, as receitas do neo-liberalismo, concretizadas num feroz ataque aos trabalhadores, retirando-lhes direitos arduamente conquistados, precarizando os vínculos laborais, enfraquecendo as suas relações de trabalho, mantendo-os numa situação de exploração desenfreada. Empurrando para a pobreza um cada vez maior número de portugueses, permite, em contrapartida, lucros obscenos da banca e de grupos financeiros, entre outros, fazendo do Portugal de hoje um dos países da União Europeia com mais alta taxa de pobreza, e aquele onde se verifica o maior fosso entre ricos e pobres.
(...)
Trata-se de uma política que aposta na destruição dos serviços públicos, na abertura de portas à sua privatização, tão desejada pelos grandes grupos financeiros, e ainda num ataque sem precedentes aos trabalhadores da Administração Pública.
(...)
Os professores não foram excepção e viram o seu “novo” estatuto profissional configurar uma nova profissão, a de funcionários executores, obrigados a trabalhar em condições desgastantes e precárias, assoberbados, cada vez mais, com tarefas burocráticas de inutilidade pedagógica, que lhes deixam cada vez menos tempo para se dedicarem ao ensino e à educação dos seus alunos, com qualidade e profissionalismo, o que deveria constituir a essência da função docente.
(...)
Estes são também os tempos em que o Governo reiteradamente não respeita a lei, pondo em causa as instituições e o próprio regime democrático, tendo desenvolvido, nos últimos tempos, uma clara ofensiva aos direitos dos cidadãos, à liberdade de expressão e de reunião, com especial sanha contra os sindicatos de professores e seus dirigentes, com o objectivo de os afastar da classe que representam e de desvalorizar a oposição firme e visível que têm desenvolvido contra esta política.
(...)

Fausto Manuel Silva Neves
Dep. Comunicação e Arte - Universidade Aveiro
(...)
José Luís Borges Coelho
Ensino Secundário - Aposentado - Porto
(...)
Margarida Maria Ferreira Oliveira Salvador
Esc. EB 2/3 D. Afonso Henriques, Guimarães

Paula disse...

Caro Anónimo,

Antes demais, deixe-me que lhe diga que de Anónimo deve ter muito pouco pois foi propositadamente que deixou os nomes do Fausto, do Zé Luis e da Margarida Salvador - sabe que eu os conheço e se o sabe então conhece-me pessoalmente e, muito provavelmente, conhece-me bem e tem alguma proximidade comigo porque o Anónimo está, obviamente, relacionado com o Coral.

Não sei qual a intenção de colocar esses nomes, se foi apenas para me informar que também eles eram signatários do Manifesto, agradeço a informação mas não me serve de nada.

Os direitos à greve e à manifestação estão consagrados nos artigos 57º e 45º, respectivamente, da Constituição da República Portuguesa. Acho muito bem que se manifestem, que gritem, que berrem, que se revoltem.

Mas o que eu li nesse Manifesto foi mais do mesmo discurso político ôco com que todos os dias somos inundados. Por defeito, prefiro casos práticos, prefiro que identifiquem a falha e trabalhem na sua solução.

Não me vou alongar na análise do Manifesto porque tenho assuntos polémicos dos quais gosto mais, mas a título de exemplo se os professores acham que são "obrigados a trabalhar em condições desgastantes e precárias" então são eles, professores, que estão completamente desfasados da realidade.
Acham também que são mantidos "numa situação de exploração desenfreada"? Exploração desenfreada?
POR FAVOR!!

A menina das bolinhas disse...

Do conhecimento que tenho de muitos professores, eles merecem uma boa avaliação porque muitos não fazem bolha o dia inteiro e se bem que muito dão se si 150% outros dão de si 0,09% ou mesmo 0% ("Porque ensinar dá muito trabalho" ora bolas não fosse pra professores) o que implica que os alunos debaixo da alçada desses professores pouco ou nada saberão sobre a matéria ou pouco ficarão instruídos...
Tenho dito, não me apetece elaborar mt...

A menina das bolinhas disse...

descobri que tenho algumas gralhas no meu post anterior... Os senhores professores estão dispostos a rectificá-las? Ou não há problema porque nunca serei nunguém na vida?

Anónimo disse...

Olá Paula.

vou citar um dos intervenientes no projecto inicial para a criação de um modelo de avaliação dos professores:

"Vou contar pela primeira vez um episódio que esteve na génese do
processo de avaliação de desempenho dos professores. O secretário de
estado, Valter Lemos, que eu conheço desde os tempos em que estudámos
juntos na Boston University, já lá vão 24 anos, pediu-me para reunir
com ele com o objectivo de o aconselhar nesta matéria. Tenho de
confessar que fiquei admirado com o conhecimento profundo e rigoroso
que Valter Lemos mostrou ter da estrutura e da organização do sistema
educativo português. Enquanto estudante, habituara-me a ver em Valter
Lemos um aluno brilhante e extremamente trabalhador, qualidades que
mantém passados tantos anos. No início, fui um entusiasta da avaliação
de desempenho dos professores pois considerava que manter o status quo
era injusto para os professores mais dedicados e competentes. Nessa
altura, eu encarava a avaliação dos professores como um factor de
diferenciação que pudesse premiar os melhores e incentivar os menos
competentes a melhorarem o seu desempenho. Fiz algumas reuniões de
trabalho com a equipa técnica do ME e logo me apercebi de que a
Ministra da Educação estava a engendrar um processo altamente
burocrático, subjectivo, injusto e complexo de avaliação do desempenho
que tinha como principal objectivo domesticar a classe e forçar a
estagnação profissional de dois terços dos docentes. Ao fim de duas
reuniões, abandonei o grupo de trabalho porque antecipava o desastre
que estava a ser criado. Nas reuniões que eu tive com a equipa técnica
do ME, defendi a criação de fichas simples, com itens objectivos, sem
a obrigatoriedade da assistência a aulas, a não ser para os casos de
professores com risco de terem um Irregular ou um Regular, e com um
espaçamento de três anos entre cada avaliação. Hoje, passados três
anos, considero que se perdeu uma oportunidade de ouro para criar uma
avaliação de desempemho dos professores realmente objectiva, justa,
simples e equilibrada. Em vez disso, criou-se um monstro que vai
consumir milhões de horas de trabalho nas escolas e infernizar a vida
de muitos professores, roubando-lhes a motivação e a energia para a
relação pedagógica e a preparação das aulas."

RAMIRO MARQUES

Como podes verificar não está em causa a necessidade de avaliação dos professores, mas sim a forma como está a ser conduzido todo o processo.O meu pai é Professor há mtos anos portanto conheço muito bem esta realidade.

Ponto1. Tu conheces-me bem do CLUP e como podes ver, embora já trabalhe, nem eu nem os meus pais estamos ricos, nem sequer próximo disso. (Volto a frisar, o meu pai já é professor há mtos anos)
Ponto2. Quase sempre, enquanto era aluna na FEUP e após ter saído das aulas às 18h, tive q esperar por ele para poder vir para casa. PQ?? Porque ainda estava na escola a trabalhar.
Ponto3. Esteve com a sua carreira congelada desde o governo de Durão Barroso, ou seja, não foi possível progredir e nem sequer ter aumento salarial (faz as contas), enquanto que a minha mãe que trabalha no sector privado teve aumentos (claro que baixíssimos).
Ponto4. Saímos e entramos em casa todos à mesma hora, o que quer dizer que o mau pai passa tanto tempo na escola como eu no trabalho.Por vezes ainda sai mais tarde.
Ponto5. Já em casa, eu e a minha mãe podemos ler, ver tv, no meu caso ir aos ensaios do CLUP, a seguir ao jantar, enquanto que o meu pai TODOS OS DIAS tem que preparar aulas, testes, correcções papeladas burocráticas do ME, consultar legislação, não podendo portanto usufruir do seu descanso, como todos nós que não são professores.(Este trabalho não pode ser feito na escola, pois tem que leccionar, participar em projectos dos alunos, resolver problemas, arrumar e organizar material didáctico e ainda tirar dúvidas aos seus alunos).
Ponto6. Todo este trabalho deve ser feito pelo Professor, como é óbvio, só que é inadmissivel que se passe a imagem de que o Professor é preguiçoso e não faz nada!!!Isto indigna-me pois assisto ao trabalho árduo do meu pai ao longo deste anos todos!É ultrajante!!
Ponto7. Tem vindo a acumular problemas de saúde devido à sua profissão.Não tem direito a reforma antecipada mesmo tendo o "síndrome vertiginoso" que o impede de trabalhar dado que até a conduzir pode ter crises colocando a sua vida em risco.Não faltou uma única vez às aulas por causa disso.A única vez que faltou às aulas ao longo de tantos anos ao serviço da escola, foi quando teve que ser operado e internado no HSJ.
Ponto8. Relembro que os ministros, assessores de ministros, autarcas,... são funcionários públicos e nem por isso alguém se preocupa se faltam, se são pagos a peso de ouro (que como sabes é o que se passa), e ainda mais grave se têm direito a reforma vitalícia mesmo estando ainda a trabalhar!!!
Ponto9. Se o meu pai tem esta doença CRONICA também terá direito a reforma antecipada??ou terá que morrer a trabalhar como os recentes e conhecidos casos de professores com cancro?! (Afirmo desde já que se isto acontecer eu processo a ministra e todo o seu governo!!!!).
Ponto10. Gostava de saber onde foste buscar a ideia que os professores são pagos a peso de ouro, pois ganhas bem mais do que eu, e do que uma amiga minha professora que trabalha há sensivelmente os mesmos anos que tu.O meu pai nos primeiros 10 anos da sua carreira de docente nunca ganhou isso (equiparando o seu salário ao ano de 2008) e teve que percorrer, nos primeiros anos, o país inteiro a dar aulas e a pagar do seu bolso a estadia e alimentação nesses mesmos locais.Para além do facto de estar longe da sua família!
Ponto11. Se até hoje ainda não desistiu da sua carreira é porque simplesmente gosta do faz, só não gosta que o tratem como acéfalo, preguiçoso, desleixado. Ele não está a ser maltratado pelos alunos mas sim pela ME.Os alunos estão satisfeitos com o seu trabalho, e ele não tolera falta de educação nas suas aulas e não permite o uso do tlm, situações recorrentes nas salas de aula. A continuarmos assim provavelmente deixaremos de ter professores e depois quero ver quem nos vai dar a formação e o conhecimento tão essenciais.
Ponto 13. Eu NAO sou avaliada no meu local de trabalho neste moldes nem perto disso, embora trabalhe ha 2 anos apenas.
Ponto 14. Eu NAO tive que fazer um exame para me poder candidatar a um emprego!!!!Quanto mais ficar excluída por ter um resultado inferior a 14 valores. Para isso existem as faculdades e os estágios (se for o caso)!
Ponto 15. Poderia continuar com outros argumentos, mas sei que a tua opinião já esta completamente formada e nada que eu possa acrescentar, como tu já frisaste nas respostas aos posts, vai alterar isso. Espero sim que os portugueses tenham outra visão deste problema e que um dia não tenhas que ser professora!!!

Sara Monteiro

Daniel disse...

Olá Paula,

Tenho também de deitar as minhas achas para a fogueira.

Vou começar por esclarecer algumas coisas:

1) Concordo plenamente com a necessidade de os professores serem avaliados. Sem ser um meritocrata, concordo plenamente que os professores mais competentes e empenhados sejam reconhecidos por isso. E os incompetentes penalizados. Tive a minha quota parte de professores incompetentes e irresponsáveis para sentir que devia ter sido feita justiça. No Ensino Superior, quando no final do semestre avaliamos (de forma anónima) os professores, nunca me coibi em dar negativas, e por vezes em apresentar comentários altamente violentos, até destrutivos em relação a determinados professores.

2) Tenho as minhas dúvidas quanto ao processo de avaliação em curso. Questões de calendário e de conteúdo. Mas não é disso que venho aqui falar, até porque ainda não conheço a fundo este processo de avaliação e não gosto de falar sem estar plenamente informado.

3) Também acho que há professores que, ainda que o não confessem, não querem simplesmente ser avaliados. E querem trabalhar o mínimo possível. E ter o dinheirinho ao fim do mês. Há professores assim. É indiscutível.


O que acho absolutamente inacreditável é a natureza irracional da componente da tua argumentação que se apoia exclusivamente em generalização abusiva e demagógica. Vejamos:


"Porque já ouvi com estes ouvidos que a terra há-de entupir uma professora do ensino básico dizer com convicção que os alunos deviam escolher se querem continuar na escola. Quando acabassem a 4ª classe. "


"Porque me dá ganas de lhe saltar ao pescoço quando uma professora diz, a alto e bom som, "Ai, hoje estou exausta. Foi demais. Cheguei à escola ás 9 da manhã e só saí ás 6 da tarde.".


"Porque é absolutamente inacreditável a facilidade, e quantidade, de vezes que os professores faltam. Mais ainda quando continuam a ser pagos a peso de ouro."

"A facilidade com que os professores faltam é, em plena actividade lectiva, irem 15 dias para o estrangeiro passar férias, com a devida e escandalosa autorização prévia. "



Já sei que outros comentários se referiram a estes pontos, e que tentaste rebater as críticas, mas o que eu acho, mais uma vez, inacreditável, é como pegas em casos concretos e generalizas a toda uma classe de pessoas. Vou aliás admitir que conheces os casos da professora do ensino básico, da que está exausta (mas uma pessoa já não tem direito a sentir-se exausta?!?!?!?!?!?!?) e dos que vão 15 dias para o estrangeiro passar férias. Quantos casos conheces de cada um deles? Eu não conheço nenhum, mas tu deves conhecê-los, se consideras uma justificação para o tom de agressividade que evidencias em relação aos professores. Sim, aos professores em geral, porque dizes "é absolutamente inacreditável a facilidade, e quantidade, de vezes que os professores faltam" e "A facilidade com que os professores faltam é, em plena actividade lectiva, irem 15 dias para o estrangeiro passar férias, com a devida e escandalosa autorização prévia." Dizes os professores. Não dizem alguns professores. Ou certos professores. Como sei que tens por hábito ser rigorosa na tua argumentação, das duas uma: ou eu conheço muito mal a realidade e nunca me dei conta da generalização dessas histórias, ou estás a praticar indução abusiva e tendenciosa.



Gostaria agora de reforçar algumas das ideias da Sara. A minha mãe também é professora. Trabalha de manhã, de tarde e à noite para a escola. À noite dá aulas. Por vezes é de tarde. De manhã e de tarde tem reuniões (com outros professores, com a DREN, com pais, etc, etc), coordena um projecto de saúde, e obviamente que em casa tem de preparar aulas, fazer e corrigir testes, etc, etc. E não falta a não ser que esteja doente (a um nível de doença que incapacite dar aulas). Haverá professores que, pelo contrário, são uns baldas, é certo, mas o teu ataque é claramente à generalidade dos professores (se não quiseres que chame ataque, pode ser crítica simplesmente, não interessa). E não é só uma minoria que é competente. É uma quantidade significativa (peço perdão por não ter estatísticas).



Noto que não estou a dizer que um professor competente esteja a trabalhar em excesso. Sabes que eu sou capaz de estar a estudar/trabalhar 15/16 horas por dia. Valorizo o trabalho. Por isso valorizo essa quantidade significativa de bons professores.



A ideia de serem pagos a peso de ouro é muito estranha. Além do que referiu a Sara de já não terem aumentos há uma quantidade de anos, não me parece que seja a peso de ouro. Já sem referir que os estagiários agora nem são remunerados.



Quanto à inflação das notas por causa da avaliação que tem sido proposta (premiando os professores cujos alunos tenham melhores notas), é evidentemente uma questão de incentivo. Cria um incentivo objectivo ao facilitismo. É isso que interessa. Há professores que não vão ter escrúpulos em se valer disso. E são os mais incompetentes e irresponsáveis. Vão ser premiados pela irresponsabilidade e pela leviandade. E os responsáveis que tiverem escrúpulos vão ser prejudicados. Parece-te justo?



É aliás por essa questão do incentivo que sou, por exemplo, contra o Rendimento Mínimo Garantido. É um incentivo à preguiça. Os casos concretos que conhecemos dos efeitos perniciosos do RMG são por demais conhecidos. Gera grandes injustiças, apesar do seu bom propósito inicial. As políticas têm que fazer um uso inteligente e justo dos incentivos. Por bem intencionada que uma política seja, deve ter sempre em conta os incentivos que cria e as consequências que daí podem resultar (desculpa agora este discurso à economista).

Também sei, como a Sara, que não vais mudar de opinião. Já te conheço suficientemente! Mas aqui fica a minha.

Com toda a amizade,


Daniel

Anónimo disse...

Perguntem a qualquer professor digno desse nome se ele quer ser avaliado. E a resposta é SIM! Claro que sim! Mas qual é o bom profissional que investe na carreira, que investe muito do seu tempo e da sua energia,que sacrifica o seu tempo de ócio, de apoio à família, que deixa os filhos pequenos (bebés)e parte todos os anos para (outras)terras distantes, para estar com os filhos de outrem, "pagando" para trabalhar e tem medo de ser avaliado?
QUEM PODE ACREDITAR QUE OS PROFESSORES SÃO UM ALVO A ABATER?
Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante para achar que pode existir sem professores?
Será este país tão estúpido para achar que a forma de limpar o ensino dos maus profissionais (que existem, claro que sim, COMO EM TODAS AS OUTRAS PROFISSÕES) é atacar TODOS os professores, atribuir-lhes as causas de todos os males da sociedade, desde os meninos que se drogam porque os professores faltam (ouvi isto da boca do senhor Albino, da Confederação de Pais) até aos de falta de produtividade do país? Será este país tão estúpido e tão arrogante que entenda poder não reconhecer as horas que os professores dedicam a preparar as aulas, a pensar em como “agarrar” aquele aluno que anda meio perdido, a telefonar vezes sem conta para os pais do outro miúdo que anda completamente desorientado, a gastar dinheiro do seu bolso em materiais de apoio, a levá-los a ver museus, teatros, exposições, conhecer coisas que muitos pais, confortáveis nos seus fins de semana de centro comercial, não estão para fazer?
Já agora, para os que dizem que os professores só querem passear, pensem que o podemos fazer com os nossos filhos e amigos, sem ter que passar 12 horas fora de casa de um dia que, passado, na escola, seria de muitas menos e sem a responsabilidade de tomar conta dos filhos dos outros.
Será este país tão estúpido e tão arrogante que esqueça que são os professores, como é, obviamente, sua função e responsabilidade, a dar a todos os alunos o melhor das ferramentas de que dispõem, sejam elas científicas, intelectuais, sociais, de cidadania e de tudo o mais que possam imaginar e entender necessárias?
Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante que não perceba que sem os professores que tentam tirar os miúdos do miserabilismo intelectual em que muitos vivem (independentemente da classe social) teremos cada vez mais uma escola de pobrezinhos onde, para não haver insucesso, devo partir daquilo que "a criança" é e sabe, descer ao encontro dos seus interesses, por causa do insucesso, etc, etc,etc... (como isto dá jeito aos donos dos colégios...)? Assim, ajudamos os pobrezinhos a cumprirem o seu (pré)desígnio na vida...
Será este país tão estúpido que não perceba que sem os professores que se estão a borrifar para estes determinismos sociais e que tanto trabalham, teremos cada vez mais o país da elite, a quem tudo é possível, e o dos outros, fechados e condenados ao atraso e a perpetuarem o meio onde tiveram o azar de nascer?

Será este país de "professores de bancada" (pois, tal como no futebol, todos parecem saber mais do que é ser professor do que nós, pelos vistos os mais incompetentes do todos os profissionais deste país!) capaz de parar dE gastar o tempo (tempo este em que muitos se poderiam dedicar, digamos, a educar os próprios filhos, a ir à escola saber deles, a dedicar-lhes tempo, sei lá...!) a fazer analogias entre as empresas privadas e os professores?
Será este país tão estúpido e tão cego que não veja, nas empresas, as políticas de incentivo, os prémios de produtividade, os seminários de motivação, os telemóveis de serviço, os computadores da empresa para trabalhar em casa e, sem ir ao mais óbvio, os ordenados?
Será este país tão estúpido que não entenda que os professores são profissionais qualificados, não têm o 9º ano nem tão só o 12º? Portanto, sejam pelos menos honestos (se não conseguirem ser inteligentes!) nas comparações.

Será este país tão estúpido e tão cegamente arrogante?
Quantos de vós não devem muito do que são a professores que tiveram? Ou os vossos filhos?

Será o meu país tão cego e tão arrogante???

Assim, perguntem a qualquer professor digno desse nome se ele que ser avaliado... E ele responde-vos que SIM!
O que não queremos mais é ser constantemente humilhados, culpabilizados, achincalhados, denegridos, tratados sem a consideração, o respeito e a inteligência que a minha profissão e o meu profissionalismo me concedem o direito de exigir!

E, citando Almada Negreiros:

UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RESMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!

... cada geração tem o Dantas que merece! Mas também tem nas suas mãos o poder de o reduzir à sua insignificância... Até porque do Dantas, o verdadeiro, o Júlio, não fora o testemunho/desabafo do Almada Negreiros, e já se teria dissolvido na poeira dos tempos...

Paula disse...

Aparentemente este canto onde escrevo o que me dá na real gana tornou-se num espaço de catarse.

Em jeito de resumo e também como resposta ao Daniel, tomei a parte pelo todo para efeitos de escrita. Mas é tão lógico e tão óbvio que, francamente, muito me supreende ser apelidada de demagógica e abusiva.

Demoraria algum tempo a responder a tudo, ponto a ponto, mas é tempo que, lamento, não tenho. Tal como já aconteceu neste blog anteriormente, registo com agrado ter contribuído para a discussão.

Noto apenas que "de bancada" somos todos. É algo que advém directamente do direito a manifestar opiniões livremente.

Mantenho tudo o que escrevi e tenho por convicção base que os professores são trabalhadores como tantos outros milhões deste país. Nem mais, nem menos.

Daniel disse...

Não foi a ti que apelidei de demagógica e abusiva, mas apenas ao teu argumento! :)

Anónimo disse...

Que é que significa falares? e discreteares como se para um público a ouvir. Estás só, não há ninguém a ser público à tua volta. Nem tu.
Mas de súbito, que sarrabulhada. De norte a sul, este a oeste. Era um cacarejo estridente, ouço-o na minha aflição.
E a espantosa proliferação dos teorizadores, dos sábios que tiveram razão para a eternidade e já não tinham, dos poetas que dedilharam na lira a sua melancolia para a comoção da intimidade das virgens e que nos fazem rir.
E dos doutores dos concílios, dos ascetas, dos pregadores.
Dos historiadores, dos salvadores do mundo, dos foliculá­rios.
Mas em cada momento do passado, a reunião em torno de uma verdade como um bolo, tomai e comei. Levava-se para casa a fatia da ciência, da arte - e agora?
Da explicação das causas e dos fins, da ordenação dos costumes, da regulamentação do choro e do riso, desde a melancolia do entardecer ao ranger do dente na treva, desde a distensão aérea dos lábios ao riso bronco e pan­çudo - e agora?
Estou parado à varanda, dos quatro pontos cardeais. Uma sarrabulhada de vozes, aturdem­-me. Por entre a balbúrdia, uma ou outra voz mais alta.
As que falam dos deuses todos em torrente de ecos pelo espaço, por entre um fervor de ladainhas.
E das divinda­des subalternas, mais chegadas à humanidade, para socorro das desgraças proletárias, desde o antraz e o coice de mula à espinhela caída - com a casquinada crítica dos descrentes evoluídos, ressoa pelo espaço, entremeada à devoção como um grasnar de corvos. A dos políticos salvadores da humanidade num histerismo com receitas prontas a aviar e a defesa aos guinchos da liberdade e da autoridade, que são iguais mas muitíssimo diferentes, porque a defesa da liberdade obriga a defendê-la dos que são contra a liberdade e exige pois uma autoridade de ferro para defendê-la, da propriedade e do ideal comuni­tário e comunitarismo em escalões, da gestão, autogestão, e semiautogestão, do direito à informação e que tem de ser por isso desinformação por virtude do direito à infor­mação e que tem de ser por isso informação correcta e deixa assim de ser direito à informação que todavia ainda é esse direito mas melhorado embora não seja já direito à informação por não ter esse direito, do direito à cultura que é só à boa cultura porque a má cultura é contra a boa e já não é cultura e precisa de ser afastada para salvaguarda do povo que gosta da má cultura pelo vício intrínseco de ser povo que precisa portanto de ser defendido contra si para não ser ele mas por aqueles que defendem a boa e podem defendê-la por virtude de serem mandatados pelo povo que não gosta de boa mas da outra, do direito ao
trabalho que não é o dever de trabalhar, excepto quando os que defendem esse direito, mandatados pelos que não têm esse direito, conquistam o direito de imporem esse direito que é então um dever e os que não tinham esse direito já não querem, porque o direito e o dever estão cheios de antagonismos, e a defesa da democracia popular da democracia parlamentar e da democracia orgânica, da república da monarquia da oligarquia.
- Estai calados, estupores!
e da centralização, da descentralização e da anarquia, do presidencialismo do semipresidencialismo da regio­nalização e das autarquias locais, do primado do grupo, do primado do indivíduo, do primado da identidade nacio­nal, e a interpretação das leis filtradas trabalhosamente pelos ódios ambições ralhos partidários dos que foram comissionados pela vontade colectiva esquadriada pelos grupos que os sonhos e ambições e ódios esquadriam e foram apurados depois de dias e semanas e meses e saíram depois ainda com uma rede intervalada de orifí­cios por onde se escaparam ainda em ginástica de rins as ambições teorias princípios salvadores do bem comum que ficaram de fora dos princípios salvadores do bem comum em que se entreteceu a rede das leis, enquanto de outros cantos do mundo outras leis contrárias também para o bem comum erguiam-se em grita e doutros cantos outras também para benefício do ser-se em colectividade, cruzadas vozes por cima trémulas de ardor e histeria, embatiam umas nas outras esguichavam como ondas que se entrecruzam pulverizavam-se num ruído anónimo de arraial popular.
- Estai calados, desgraçados!
e foi quando os filósofos. Eram tecnicistas especiali­zados precisos, confusos enrodilhados subtilíssimos, fala­vam de Deus que não havia mas havia embora não houvesse, e da liberdade inteira do homem determinada pelas circunstâncias históricas e pelas glândulas e pela vontade dos outros homens que eram livres e formavam essas circunstâncias em virtude de outras circunstâncias em que havia outros homens livres e determinados por outras, e falavam do espírito e da matéria que era o espírito de uma maneira que o não era, e da consciência do homem que era inconsciente e era consciente pela consciência desse inconsciente, e da quantificação do inquantificável que se quantificava por essa quantificação mas não podia, e da explicação do inexplicável que ficava explicável pela palavra que era o nome do inexplicável para ser explicação, e de outras palavras que formavam crosta por cima para tapar do que era intapável e ficava por baixo mas não se via e era como se não ficasse,
- Ide todos à merda!
e foi quando os moralistas. Falavam do comporta­mento humano na família na política nas relações entre os homens, dos pecados circunstanciais para todas as situações e das virtudes, dos benefícios da fornicação livre e à tripa forra e do horror dessa fornicação na perversão dos usos e costumes das sagradas normas para a regula­mentação da espécie e da dignidade fora da ligeireza e inconsequência dos cães, da regra contra o destempero na fúria unitiva dos sexos desde a lei incompreensível e pré-histórica do incesto ao namoro delicado e retractivo da janela, e da estupidez dos interditos fabricados por convenção humana para codilho dos homens, da digni­dade da família com a autoridade graduada por escalões e da hierarquia reaccionária espatifada ou da graduação dos escalões mas ao contrário, da sagrada união familiar e do direito temporão à fugitividade e como a família piscícola, da criação dos filhos no choco materno e da criação colectiva nas chocadeiras eléctricas do Estado, da fideli­dade matrimonial e da concepção da fidelidade como uma opressão reaccionária finalmeme ultrapassada com o direito intervalar de mudar de cama ou o direito de a ir mudando em certos prazos consoante as necessidades comprovadas pelas estatísticas, da anulação simples do acasalamemo com o direito à fornicação avulsa e aleató­ria, da manutenção da rede das ligações familiares – do direito a baralhá-la como os canídeos, do direito à fabrica­ção de filhos com defeitos de fabrico e da necessidade de apuramento da raça com cobridores profissionais, do direito à vida e à morte, ao respeito e ao insulto, à veneração da velhice e à sua segregação profiláctica, à suavidade compreensiva e à chicotada, à paz e à guerra, ao coração e ao fígado,
- Para a puta que vos pariu!
e foi quando outra vez os pregadores da religião.
Mas eu já mal os ouço. Nos intervalos da minha atenção avulsa, Deus e o destino do homem - que destino é o teu? aqui, só, filtrado através de todas as ilusões, e a necessidade de justificar uma vida quem senão Deus? e a citação dos tratadistas desde o motor imóvel e metafísico do grego, e outra vez a casquinada alegre dos antimetafí­sicos, e o murmúrio longínquo das beatas velhas a rezar o padre-nosso, e os métodos novos e tecnocráticos, ou de pressão psicológica para se chegar à divindade, enquanto em freme, estou parado à varanda, pesada massa imensa a montanha desnudada à aridez, e os que pregam um Deus intratável cheio de fígados coléricos, e os que pre­gam um Deus porreiro cheio de comunicação proletária que vai connosco aos comícios aos cafés e às putas, e os que dizem outra vez que a matéria é que, os que espre­mem todas as religiões para terem um Deus sintético e os que aproveitam essas escorralhas para fabricarem deuses avulsos corriqueiros e entremeados a todo o ser de circunstância, os que fabricam religiões novas com abaixo-assinados, e os pregadores dos malefícios da reli­gião através dos tempos e do seu ódio vesgo ao progresso, e os pregadores dos benefícios da religião e do seu amor ao progresso com o exemplo dos grandes sábios que vergavam a cerviz e diziam «eu creio», enquanto os outros com outros sábios que não diziam nem vergavam, estou imóvel à varanda, na tarde paralisada de calor - e foi quando os artistas.
- Espera. Faltava agora ainda estes, os artistas. Que é que vós quereis, meus bardamerdas?
Queriam coisas, queriam também dizer coisas. E ime­diatamente um murmúrio larvar, ia crescendo, com esguichos histéricos aqui e além, depois foi a gritaria.
Mas eu não quero ouvir. Fecho mesmo a varanda, não quero. Mas eles desvairam aos gritos, deve haver grossa panca­daria para as bandas da cultura. Devem ter vindo os mortos a ajudar. Dizem nomes bárbaros, é a barbaridade da nossa condição. Suprematismo, pois, pois. E orfismo purismo simultaneísmo oh, oh. E rayonismo neo­-plasticismo. E uma voz escura já cavernosa, cubismo, fauvismo, eh, eh. E umas vozes novas raquíticas em falsete, a pregação do vazio programático o nulismo. E o sitismo que era a pregação contra a existência do quadro e a defesa apenas e intransigente do sítio dele na parede ­e os poetas. A defesa do regresso às formas poéticas de base que um jocoso crismou de parolice e que ficou o parolismo. E o baralhismo que baralhava muitas palavras
e as atirava ao ar e caíam em forma de poema - e o saquismo. Que era metê-las num saco para as tirar ao acaso da inspiração, e o mudismo. Que era a poesia muda em livros em branco. E o canalhismo que era uma poesia ordinária para as classes mais desfavorecidas. E o cara­lhismo, cujo chefe de fila era o célebre autor de «Caralhí­colas», e que era uma poesia ainda mais ordinária.
- Ide berrar para as profundezas do inferno!
e o panicismo que considerava o pânico como medida fundamental do sentimento - e foi quando os músicos - Não quero! Não quero!
tapei os ouvidos - meu Deus. Estou assim algum tempo, destapo os ouvidos, havia ainda atrasados os romancistas. E os arquitectos, urbanistas. Os pedagogos, os cientistas. E os críticos.
Na tarde abrasada desértica.
E os técnicos publicitários. E os técnicos dos cemitérios.
Na tarde imóvel à praga do calor. Uma voz canta ao longe - canta? Não a ouço.

Anónimo disse...

in Vergílio Ferreira (1983). Para Sempre.

Anónimo disse...

Esta manhã, acordei com
uma vontade intensa de procurar o endereço do meu blog ( até me esqueço dele!) e desabafar.
Desabafar porque a tristeza que tem tomado conta de mim, nos últimos tempos, já não se contenta em ser verbalizada com alguns colegas de trabalho que, infelizmente,vão partilhando estes sentimentos de desalento e angústia.

Desabafar porque estou a sentir-me inútil, enxovalhada, descartável e uma peça partida de um jogo de xadrez qualquer, jogado por
aprendizes dessa arte ancestral e que requer tanto inteligência como habilidade. Ou será que se tratam antes de foliões que, num pub rasca
qualquer, vão atirando dardos a um alvo para passarem o tempo?

Desabafar porque, quando me perguntam qual é a minha profissão, eu já não sei se devo responder
orgulhosamente "Sou professora!" ou, em vez disso,"Faço parte de uma companhia circense e, conforme
o dia, vou sendo a mulher-palhaço, contorcionista, malabarista, domadora de feras...Olhem!

"Acumulo funções!"

Aproximam-se a passos largos os meus quarenta e três anos. Desde os seis que estou ligada ao ensino.
Nunca cheguei a sair da escola. Fui aluna e depois professora. Comecei a leccionar ainda como estudante
universitária e esta profissão faz parte de mim como a minha pele. No entanto, hoje sinto-me como uma
cobra: com uma urgente necessidade de a mudar e arranjar uma nova.

Pela primeira vez, questiono a sabedoria da escolha que fiz relativamente à minha profissão.
Escolha consciente, diga-se em abono da verdade...a culpa foi toda minha, ninguém me obrigou e pessoas avisadas bem me alertaram.

Mas, também existiam outras que pensavam de forma diferente.

Relembro nomes de antigos professores... daqueles que, por si só, já eram uma aula e não precisavam de recorrer a metodologias e estratégias inovadoras (já agora...se alguém souber de alguma que ainda
não tenha sido tentada, não seja egoísta e partilhe-a comigo...eu já não consigo inventar mais!).

Recordo como esses professores me incentivaram a seguir esta carreira
"Foste feita para ensinar, miúda! Vai em frente!"- e como um deles, quando o encontrei já bem velhote,
comentou com um sorriso "Eu bem sabia! Sempre lá esteve o bichinho!"

Que diriam, todos os meus professores que já partiram, sobre tanto decreto regulamentar que, em vagas sucessivas, vai transformando a nossa Escola e os seus professores num circo de muito má qualidade, cheio de artistas saturados, humilhados, mal pagos e fartos de trabalharem num trapézio sem rede?

Sou regulada por um Ministério que espera que eu seja animadora cultural, psicóloga, socióloga, burocrata, legisladora, boa samaritana, mãe substituta...

Espera-se que tenha doses industriais de paciência e boa vontade, que me permitam aguentar a falta de educação de meninos mal formados, de meninos dos papás, de meninos que estão na escola apenas porque não trabalham (porque bom corpo isso têm!), de meninos que estão na escola a enganar os pais, que até se deixam enganar por conveniência, de meninos que frequentam os Cursos de Educação e Formação e os Profissionais porque acham que é uma forma de fazer turismo com os livros debaixo do braço (desculpem, enganei-me...vou rectificar- "sem os livros debaixo do braço"), de meninos que vêm para a escola para não deixarem que outros meninos, estes últimos sim, com aspirações e provas dadas, possam seguir em frente até serem os homens que os primeiros nem sequer conseguem projectar mentalmente...

Além disso, tenho reuniões: de departamento, de conselho de turma, de equipa pedagógica, de Assembleia
de Escola (pois foi...também caí na patetice de aceitar presidir a este órgão...mais uma vez a culpa foi
minha, pois pessoas avisadas bem me alertaram!), de grupos ad-hoc, de reuniões para decidir quando
faremos mais reuniões...

Tenho legislação para ler. Labirintos de artigos em que o próprio Minotauro marraria vez após vez num ataque de fúria! Um dédalolegislativo, no qual nem Teseu conseguiria encontrar a ponta do fio.

Há papelada para preencher. Pautas dos profissionais, grelhas de observação para cada um dos alunos,
registos das actividades de remediação...

Não esquecer a reposição de aulas. As dos alunos que faltam por doença, por namoro, por jogo dos
matraquilhos...desde que a justificação do Encarregado de Educação seja aceite, lá tenho eu de arranjar actividades de remediação para quem não quer ser remediado!

Proibi a mim própria adoecer, visto que também tenho de repor essas aulas, mais as das greves, as das
visitas de estudo dos alunos nas quais a minha disciplina não participa ( mesmo estando eu a cumprir o meu horário na escola...não faz mal, depois ofereço um bloco ou dois de noventa minutos gratuitamente!),
as das minhas ausências em serviço oficial...

A questão é saber quando e como vou repor essas aulas, dado que o meu horário e o dos alunos é ncompatível durante os períodos lectivos! Claro que isso não faz mal: dou dias das minhas férias!
Afinal, não consta por aí que os professores estão sempre a descansar?

Tenho aulas para preparar. Testes e trabalhos para corrigir.

Devo investir na minha formação. Quando? Como? Onde?

E isto é a ponta de um rolo de lã que, bem aproveitadinho, dava uma
camisola e pêras! Ou então uma camisa de onze varas!

Fazendo o ponto da situação, sobra-me pouco tempo para aquilo que gosto realmente: ensinar.

Pouco tempo para aquilo que me dá prazer: fazer circular o conhecimento.

Pouco tempo para conseguir que esse conhecimento ocupe o espaço que, na maioria dos casos, é ocupado por uma crassa ignorância.

Agora, dizem-me que vou ser avaliada ( tudo bem, não tenho nada contra o ser avaliada...talvez assim, com as novas emoções, eu descongele, pois há tanto tempo que estou no frigorífico laboral!), mas parece-me que vou voltar a uma espécie de estágio ainda pior do que aquele que enfrentei há dezassete anos atrás.

Tenho receio que as escolas se transformem num circo ainda maior.
Um circo de palhaços ricos e palhaços pobres.
Um circo de compadrios e vingançazinhas pessoais.
Um circo em que uma meia dúzia de artistas vai andar vestido de lantejoulas e seguido de
cãezinhos amestrados, uma outra meia dúzia vai tornar-se perita na arte do contorcionismo,
para evitar obstáculos, e a grande maioria da companhia vai ter de engolir fogo para o resto da vida
profissional.
Por isso, estou triste.

Anónimo disse...

No fundo, no fundo... A Psp já fez hoje a avaliação dos professores.. Já estão identificados os docentes que irão dar nota negativa a Ministra e seus compinchas! Manifestar sim mas com juizinho e sem falar ou gritar, e sem cartazes, e sem manifestar.. Claro! Até se lhes vai saltar o giz!

Anónimo disse...

De acordo com ponto 2 do Artigo 9.º do Decreto Regulamentar n.º 2/2008, (itens de referência para os objectivos individuais), passo a apresentar os meus objectivos e respectivas estratégias.
a) A melhoria dos resultados escolares dos alunos;
Pretendo baixar o insucesso dos meus alunos, a matemática, de 25% para 20% . No ano anterior a turma tinha 20 alunos dos quais 5 tiveram insucesso (25 %); como este ano a turma aumentou para 25 alunos, se os mesmos 5 não obtiverem sucesso terei uma percentagem de insucesso de 20%. Estou de parabéns. (P.S: Não esquecer de pedir para voltarem a aumentar a turma para o próximo ano).
Estratégia II: não me aumentando a turma, e como o Ministério diz que não precisam de ter aproveitamento a matemática (podem transitar com nível 2 a duas ou três disciplinas), vou oferecer 2€ sempre que um aluno tenha positiva num teste. (P.S: se 2 € não resultar terei de pensar em 5€ e já não vou de férias para a praia).

b) A redução do abandono escolar;
Pretendo obter 4% de abandono escolar, que corresponde a 1 aluno cuja família é constituída por pais toxicodependentes;
Se durante o ano lectivo a avó materna que cuida de um dos alunos, por este ter sido abandonado pelos pais, vier a falecer (já tem 80 anos) ou ficar incapacitada de cuidar dele, comprometo-me a adoptá-lo para cumprir os objectivos da minha avaliação;
Quanto aos que mudarem de residência sem efectuarem transferência, encarregar-me-ei de descobrir a nova morada e contactá-los pessoalmente para que assinem os papéis da transferência (P.S: espero que nenhum dos ucranianos regressem ao seu país pois a 5€ por positiva, não vou poder ir à terra deles tratar dos papéis);

c) A prestação de apoio à aprendizagem dos alunos incluindo aqueles com dificuldades de aprendizagem;
Comprometo-me a prestar apoio a todos explicando individualmente a matéria que tinham que estudar e resolvendo os exercícios que tinham para TPC, mas que não fizeram pois como me disseram "tenho mais que fazer que ir para casa fazer TPC's"; (P.S: 90 min de aula a dividir por 25 alunos dá 3,6 min a cada um; será que aquela programação de matemática que previa 8 aulas para uma unidade contou com este tempo?)

d) A participação nas estruturas de orientação educativa e dos órgãos de gestão do agrupamento ou escola não agrupada;
Como não sou titular só poderei ser director de turma, o que farei se me atribuírem o cargo (que remédio); (P.S: se não me derem o cargo de DT será que ficarei em falta? Se calhar é melhor pedir para, por favor!, por favor!, me darem o cargo);

e) A relação com a comunidade
Proponho-me a estabelecer boas relações com a comunidade, não reagindo se for insultado ou agredido por alunos ou EE.
Não sei se é com a escola se é com a local por isso, pelo sim pelo não, estou a pensar organizar uma recepção, com buffet, claro, a todos os alunos e EE e convidar também os elementos da Junta de Freguesia (P.S: se não me deixarem fazer a recepção na escola tenho de alugar um espaço; NOTA: se alugar o espaço à Junta até estou a contribuir para as boas relações, pois uma rendazita é sempre bem vinda para a autarquia)

Agora não posso pensar em mais itens; A minha mulher está-me a chamar para atender um aluno que tem os pais desempregados e veio cá a casa buscar umas merceariazitas, enquanto não chega o subsídio de desemprego. É que a mãe já me disse que na situação em que se encontram, não tem dinheiro para mandar o miúdo à escola, mas eu é que não arrisco: não posso aumentar a taxa de abandono...

a_crazy disse...

Paulinha,

Queria só dizer que concordo contigo. É evidente que há arestas a ser limadas. Mas também é verdade que os professores têm sido uma classe priveligiada na nossa sociedade. Eu acho que as outras centenas de milhares de funcionários públicos deviam juntar os farneis e as famelgas e deslocarem-se até à capital como sinal de apoio à Ministra e ao Governo por estarem a repôr a justiça no tratamento de iguais. (Sim, avaliação é para todos - os professores não podem ser excepção. Sim, progressão é para alguns, não é para todos e não pode ser atribuida por antiguidade).

Com todo o respeito pelos bons docentes deste país e por todos os bons e esforçados trabalhadores,

Inês

martinha disse...

Minha querida Paulinha...

Venho pela pimeira vez confessar-me leitora do teu blog, deve ser dos únicos que me dou ao trabalho de ler. Claro que iria chegar o dia em que eu não ia concordar com aquilo que escreves :) No tempo em que eu tive o privilégio de fazer parte daquele grupo fantástico do CLUP (por aqui já pude ver as discussões e debates fantásticos que devo ter perdido nestes tempos!) partilhamos ideias e até metade duma cama, por isso não consigo levar-te a mal em qualquer coisa que digas! Mesmo que seja contra a profissão que agora abraço.
Tu sabes que eu nunca quis ser professora, por diversas razões mas principalmente por ver o desgaste diário da minha nessa profissão (neste caso a culpa não pode ser atribuída à ministra, mas acredita que há a um nível mais "micro" determinadas personagens que lhe podem ser comparadas...).
Para desgraça dum país que não investe nas pessoas e a longo prazo e só pensa naquilo que é pura fachada, os psicólogos estão quase todos desempregados. Como tal, vali-me do meu curso de piano, de que sempre me queixei tanto, e arranjei trabalho como Professora de Ensino da Música no 1º Ciclo das Actividades de Enriquecimento Curricular. Como sabes, quem estuda música e tem a música como hobbie, não para nunca. São feitos sempre muitos sacrifícios, por isso estive sempre habituada a trabalhar muito, parqa conseguir levar a cabo uma licencitura e um curso do conservatório ao mesmo. Não tenho medo do trabalho e nunca tive feitio para me encostar.
Quando aceitei o trabalho de professora, posso dizer que se calhar levei as coisas de forma um pouco leviana no início. Mas ao longo dos meses, comecei a aperceber da complexidade da profissão. Já se falou das burocracias, das reuniões e das papeladas, mas para mim (que felizmente estou um pouco afastada disso pois as AEC não têm tanto trabalho a esse nível), mas o verdadeiro desafio é a sala de aula. É a dinâmica que tens que impor a 25 crianças que tens à tua frente e esperam muitíssimo de ti.
Fazendo uma análise que a minha formação "psi" me vai permitindo, vejo que a visão que a sociedade tem dos professores se modificou radicalmente. Isto relaciona-se com a forma como os próprios pais lidam com as crianças. A criança de hoje em dia não reconhece autoridade ao adulto. A criança de hoje em dia já percebeu que pode manipular todos os adultos à sua volta, pois estão todos mais preocupados em chegar ao fim do mês do que a prestar atenção à criança (isto não é uma crítica, é uma constatação na crise em que vivemos). A criança chega à escola e, ao contrário de outros tempos (como os nossos, Paulinha!), em que partiamos para a escola com uma atitude de respeito por quem tinhamos à nossa frente e ao nosso lado, pois era essa a atitude que tinhamos em relação a todos os adultos que tinhamos à nossa volta, a criança de hoje pensa que pode manipular também aquele adulto. Infelizmente, a sala de aula tornou-se uma sala de tensão pela procura do poder, em vez dum espaço de trabalho e aprendizagem em harmonia. E falo de crianças tão pequenas como as de 6 anos.
Os pais ainda não perceberam que deveriam ser aliados dos professores para que desta forma a criança possa também respeitar os seus pais, pois no fundo somos todos adultos e modelos de valores. Se a criança percebe que os adultos de degladiam uns aos outros, vai ainda mais ter uma atitude manipulativa e por os adultos todos uns contra os outros. Esta falta de consistência na educação cria muita insegurança nas crianças, que se defendem com atitudes agressivas nunca vistas na escola do nosso tempo e que são comuns hoje em dia. Os adultos, nesta confrontação, criam crianças perdidas, que não sabem em quem confiar, que acham que têm que escolher um lado da batalha e que acaba por se tornar menipuladora e individualista.
Quando digo isto, digo porque sei e porque lá estou todos os dias.
Não digo que as coisas não devem mudar, pois a mudança leva-nos sempre a evoluir para melhor. Agora, uma campanha para denegrir a imagem dos professores cria um ambiente nas escola muito tenso, pois as crianças já perceberam que os professores estão fragilizados e agora, mais do que nunca, percebem que nos podem manipular que ninguém irá defender um professor. Estas atitudes, vindas do macrosistema, que é o Governo, e que transitam para o microsistema da família, cria um ambiente insopurtável na sala de aula.
Todos viram o vídeo da sala de aula no Carolina e se reflectirmos sobre esse assunto tendo como base estas permissas percebe-se as coisas de outra forma.
Os professores são educadores, são modelos, são formadores de consciências e são muito importantes na formação da personalidade das nossas crianças. Não deitem abaixo desta forma os professores pois todos os adultos irão pagar, no futuro, com o tipo de sociedade que se irá formar.

Duma forma simplista, tenho dito... Ainda faço um mestrado sobre isto :P

Um beijo muito grande com saudades para todo o CLUP!

Marta Almeida

Unknown disse...

Olá Paula

Li o teu texto com atenção e como professor de profissão e teu colega do coral gostava de expor o meu comentário
Relativamente à questão de avaliação, penso que sabes disso, os professores já eram avaliados o que permitia aos bons professores subir na carreira. O problema é que não existia rigor, por parte de quem avaliava, que não permitisse também que os maus subissem. O sistema de avaliação implementado na altura, ao que julgo saber, era mais exigente do que actualmente é aplicado na saúde e na justiça. Querem-no mudar. Tudo bem. Mas a mudança deve garantir que:
- Efectivamente os bons progridam. Neste momento tal não acontece
- Quem avalia tenha condições pedagógicas, científicas e motivacionais para o fazer. São raros os docentes avaliadores que reúnem estas três condições.
- Os instrumentos de avaliação utilizados sejam claros e permitam a um avaliado atingir a máxima nota. Da forma como estão construídos e propostos pelo Ministério tal não acontece.
- Não existam atropelos à lei que regula esta matéria.
Penso que os casos mencionados justificam, por si só, que exista maior ponderação por parte da "Team Maria de Lourdes" relativamente à implementação do novo sistema de avaliação.
Quanto à questão das horas de trabalho dos docentes devo-te dizer que sou dos que defendem que devem ser passadas na escola. Estou ansioso (sem ironia) que a escola disponibilize um espaço para mim com secretária, computador, Internet e impressora para que possa exercer a minha profissão libertando o meu orçamento particular deste tipo de despesas. Esta situação teria outra vantagem. O cumprimento do horário de trabalho e o pagamento de horas extraordinárias se tal se justificar.
Relativamente à questão dos alunos terem um peso na avaliação dos professores eu penso que eles não estão preparados para responderem de forma objectiva a essa solicitação para além de que estaríamos a conceder-lhes um poder complicado de gerir pelo docente na relação pedagógica professor/aluno.
Uma última nota. A profissão docente é extremamente desgastante para quem a exerce. Eu acredito na especificidade das profissões e que não existe um igual nível de stress e desgaste físico entre elas. 40 Horas de trabalho efetivamente não matam, se calhar nem 60, mas que causam mossa, causam…

O colega de cantorias

Paulo Ventura

Anónimo disse...

Pois será como dizes em alguns aspectos. Noutros não é tão generalizado.
Mas não estendo mais a minha opinião por ser suspeita, uma vez que a minha mão é professora do ensino básico, e sei que o trabalho que tem com os alunos é muito mais extenuante do que picar o ponto às 9h e às 18h.
Como me disseste ontem, é exasperante atender a 20 ou 30 caprichos e personalidades diferentes, principalmente com idades compreendidas entre os 10 e 15 anos. =)

Ana Anahory