15 setembro 2010

Circo

Não é que tenha deixado de ter assunto para escrever, só aconteceu que comuniquei de outra forma.

Depois de uma passagem muito curta por Londres, cheguei ao Porto a pensar que o Porto tinha todos os ingredientes para ser como Londres, a começar pelo nevoeiro e pela gente simpática. Depois a aura de optimismo desvaneceu-se quando vi nas notícias o protesto dos estudantes do politécnico que irromperam pela cerimónia de abertura do ano lectivo que contava com a presença de Mariano Gago e de José Sócrates. Se tinham ou não razão não sei, mas o sorriso de gozo com que os estudantes foram recebidos pelas personalidades da primeira fila foi desconcertante.

É por este desinteresse latente e transversal que o Porto, ou Lisboa pela mesma razão, ainda estão a anos-luz de cidades europeias como Londres ou Paris. Aliás, basta ver pela abstenção em voto após voto. O desinteresse é tal que nem para fazer o raio de uma cruz num papel - mais fácil é virtualmente impossível - as gentes deste país se deslocam uns metros. Não há mobilização para nada, os poucos que ainda vão dando o corpo ao manifesto são dados como malucos e quando se trata de abaixo-assinados se for daqueles que se mandam pela internet, tanto melhor.

Houses of Parliament, Londres


Apesar de ir fazendo a minha parte, provavelmente contra mim falo - há um momento em que se acaba por ir com a corrente, em que se olha à volta e se encolhe os ombros. Mas depois passa-se em frente ao Houses of Parliament e vê-se permanentemente gente acampada à porta em protesto contra, por exemplo, a participação do Reino Unido na guerra do Iraque. Estão lá dias a fio, milhares de pessoas passam de um lado para o outro e, curiosamente, ninguém se ri.

Aqui rimo-nos de tudo, assim é mais fácil disfarçar o embaraço, desvalorizar a opinião alheia e de mãos a tapar os ouvidos fingir que está tudo igual. O problema é que com tanto riso forçado cada vez mais isto parece um circo que não só teima em não acabar como a cada número entorpece mais um bocadinho.

3 comentários:

Jorge Humberto disse...

Magana! vieste cá e nada disseste! :P

Paula disse...

foi *mesmo* curta a viagem!

Anónimo disse...

É difícil manter a motivação quando vemos o riso de gozo. Mas o tal riso é uma fachada para disfarçar o incómodo. Fazemos mais diferença do que se transparece. Never - ever - give up.