O tempo passa e (às vezes) entope-se com o tamanho e natureza da palermice alheia. É nessas alturas que apetece deixar escrita a indignação para que a sanidade mental se mantenha e, quem sabe, se torne tudo menos palerma.
Graças aos últimos tempos motivo para ensandecer é coisa que não está em crise - entre um palhaço de um presidente da república, um energúmeno de um primeiro-ministro e um desalento de um clube que perde tudo quanto pode, ainda me vem à cabeça com relativa frequência o que aconteceu há um mês atrás na abertura da queima das fitas do Porto. É que governos vêm e vão, palhaços e futebol idem, mas a dignidade humana, a moral da dignidade humana até, fica por mais que uma semana de bebedeiras ou que a duração de uma história de casos de polícia.
Um homem foi morto, a tiro, por muito ou pouco dinheiro não sei, não interessa, e a festa continuou. Não comento sequer a própria natureza da queima que, resumindo, não passa de uma semana em que milhares se embebedam e uma meia dúzia faz um lucro obsceno. Comento sim a espinha dorsal, ou da falta dela, dos que deste circo fizeram parte; não concebo como se pode fazer a festa em cima de uma morte; não aceito que digam que foram feitos momentos de homenagem entre uns testes de som e uns grunhidos cuspidos ao microfone e não compreendo, não se me ocorre de todo nenhuma explicação, para a normalidade absurda com que tudo se desenrolou.
Resta-me apenas a constatação de que são tão imbecis os que mantiveram a festa como os que lá foram festejar. E quanto a isso nada há a fazer.
2 comentários:
Eu confesso que continuo entupida mas é bom ouvir-te a desentupir (nos)
Não podias falar melhor... subscrevo literalmente, apesar de secundarizar as questões futebolísticas...
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