Abortar por opção sabendo que já bate um coração?
da Plataforma Não-Obrigada
Desta vez vi este cartaz na Alameda das Antas, zona onde ainda só tinha visto um do PS sobre a abstenção e pensei que tivesse a sorte de não ver destes cartazes escritos a cor-de-rosa. Uma vez mais, não foi o caso.
O sentimentalismo barato e demagógico deixa-me à beira de um ataque de nervos, por várias razões, em particular devido à hipocrisia gritante que reina na campanha do não e é transversal em todos os que se dizem contra o aborto.
Até à data de publicação deste post não conheço ninguém, de entre os defensores do não, que me diga que a lei actual está mal. É aliás um dos argumentos mais usados contra a interrupção voluntária da gravidez - a lei está bem como está, dizem eles - e a isto eu chamo HIPOCRISIA.
Ora então, um embrião resultado de uma violação é desprovido de batimento cardíaco? Não se desenvolve normalmente até, pelo menos à data legal em vigor, com o coração a ser formado por volta do segundo mês? Que raio de argumento hipócrita é este que admite que uma gravidez resultado de uma violação seja interrompida - sem que o direito ao desenvolvimento do embrião tenha qualquer peso na decisão - e que acha crime quando a mulher escolhe interromper a gravidez alegando o direito ao desenvolvimento do dito embrião? A desonestidade de quem defende o não revela-se quando os princípios mudam conforme dá jeito - ora o embrião tem direitos, ora não tem, ora a mulher é consciente das próprias decisões e é livre de escolher, ora a mulher perde todos os direitos, liberdades e garantias.
Parir contrariada para a criança ser ignorada? A isto é que eu digo Não-Obrigada.
6 comentários:
Por falar em "incongruências"... alguém me explica porque é que o Governo, de maioria PS, convoca um referendo nacional e depois anda a fazer campanha pela abestenção?
Correcção, o PS não anda a fazer campanha pela abstenção.
O que eu escrevi é que o PS optou por fazer campanha sobre a abstenção - neste caso basta ler um dos cartazes para se entender que é campanha contra a abstenção, em particular porque em 98 todas as sondagens davam larga vitória ao SIM mas com perto de 70% de abstenção foi o NÃO que ganhou.
uma das coisas que acho fantástico é que alguns dos slogans que os defensores do não usam, poderiam ser válidos para os outros gajos trocando apenas uma palavrinha...
Por exemplo:
"Abortar a pedido e passar o resto da vida a pedir que não tivesse acontecido"
passa a:
"Não abortar a pedido e passar o resto da vida a pedir que tivesse acontecido"
"Parir contrariada para a criança ser ignorada? A isto é que eu digo Não-Obrigada." gostei e essa é a principal razão para eu votar sim. mas acredito perfeitamente que o não ganhe ou que a abstenção invalide o referendo. Eu acho que este referendo vem mais a pedido do PS do que por vontade da opinião pública. No entanto, como vivemos num país atrasado onde a generalidade das pessoas tem uma mentalidade retrogueda e onde a
s pessoas vivem subjugadas aos valores religiosos, o não certamente ganhará. Como dizem os suiços: "Portugal é um país lindo, só é pena haver portugueses". Disseram-me isto há uns anos atrás. A nossa sociedade não está preparada para legalização do aborto, drogas, salas de chuto, etc.. ainda vamos ter de esperar 20 anos.
Pequeno "comentário" só para reparar que de facto ler cartazes na auto-estrada acima do limite de velocidade legal, não é a melhor maneira de se entender o que lá está escrito. My bad.
@one lazy lad: É a força dos argumentos do não, conseguem ser desmontados até na forma como são expostos.
@macnet: Concordo na parte do aborto, a parte das drogas é outra questão mas que sem dúvida reflecte uma mentalidade que fica aquém do que seria desejado para a época/realidade em que vivemos.
Pena é que o PS não teve a coragem política de mudar a lei na assembleia - o país não precisava de passar por isto, temos mais com que nos preocupar.
@rup: Se não estou em erro, na parte inferior do cartaz está escrito "Pelo SIM responsável", tens que ler as letras pequeninas também! :)
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