22 janeiro 2014
Sr. Ministro,
Podia começar por citar Einstein com a tão badalada frase sobre a estupidez humana mas partindo do, provavelmente errado, principio que já a conhece, prefiro citar o Ricardo Araújo Pereira: “a liberdade de expressão é uma coisa linda: permite-nos distinguir os idiotas”. Salvaguardo já alguma pequena incorrecção mas ouvi isto na rádio (sabe o que é? aquele aparelho que tem no carro que lhe dá as notícias e o trânsito? já ouviu falar de Maxwell? Foi a investigação dele na teoria do campo eletromagnético que deu origem à invenção do rádio, sabia?). Pois sr. ministro, acontece que depois de ler as suas declarações em que se diz “contra bolsas científicas longe da vida real” não podia deixar de sentir a maior repulsa por tamanha idiotice.
Antes que o sr. ministro se interrogue se não serei mais uma desesperada bolseira sem bolsa deixe-me esclarece-lo: já fui, sim. Sou doutorada em astronomia numa universidade pública (a melhor do país diz-se), essa ciência que, ironia das ironias, não podia estar, segundo os seus critérios, mais longe da vida real - mas, note bem, sou agora analista de negócio na Sonae - quer mais real que isto? Tenho por isso muito mais legitimidade em falar sobre este assunto do que o sr. ministro alguma vez terá, tendo o sr. ministro feito faculdade e carreira em privadas, sem sentir o seu, ainda que exíguo, talento avaliado, enxovalhado, esmiuçado e, por fim, recusado. Pois eu, e milhares de outros em Portugal, já. E, sabe, os astrónomos já têm algum poder de encaixe e alguma tolerância jocosa tantas foram as vezes que, por um lado, os ignorantes nos perguntaram se lhes líamos as cartas astrais e, por outro, os ignóbeis nos acusaram de não fazer nada pela sociedade.
Mas é por ter sido bolseira - não se amofine, não fui bolseira FCT, fui recusada vezes a mais do que as que me dei ao trabalho de contar - que lhe posso dizer que, não fossem as suas declarações mostrarem um profundo desrespeito e desconsideração por milhares de investigadores deste país, chegaria a ser ternurenta a sua ignorância - faz lembrar a minha avó, analfabeta repare bem, que há uns anos atrás me perguntou muito indignada o que é que eu aprendia na escola se não sabia a diferença entre alcatra e chambão.
Quando falo em milhares de investigadores não é de animo leve, o número traduz não só os que agora ficaram sem bolsa, sem projectos e sem expectativas: inclui também todos os que até agora contribuíram para que Portugal deixasse a cauda da Europa e todos cujo trabalho ficou agora hipotecado porque, sem querer ser dramática, pura e simplesmente deixou de haver futuro. Da minha parte, escolhi experimentar aquela que o sr. ministro designa de “vida real” e estou cá fora - segundo o sr. ministro, estou fora do sistema das bolsas, estou agora num sistema perfeitamente bem regulado e previsível que é o mundo empresarial, correcto? Confesse sr. ministro, deu-lhe uma certa vontade de rir. O seu argumento é tão falacioso que um incauto até acredita que existe tal coisa como “ciência longe da vida real” - isso é o mesmo que dizer “astronomia longe das estrelas” ou até “futebol longe do Pinto da Costa”: a ciência nunca estará longe da vida real da mesma forma que um prédio não está longe dos tijolos.
Se se quer referir à investigação científica que gera receitas então aí sr. ministro, assusta-me mais a sua sanidade mental, ou falta dela, do que as suas idiotices. Se tiver ligação à internet sr. ministro (já ouviu falar do CERN? esse laboratório de física de partículas, longe portanto da “vida real”? Sabe então do papel do CERN no conceito da world wide web.) pode procurar pelo ROI (return of investment, é a sua praia de certeza que sabe o que é) do programa Apollo (pois, imagino que o feito da humanidade que foi a ida do Homem à Lua não lhe interesse minimamente) e, com certeza para seu espanto, pode verificar que por cada dólar investido no programa, e foram 25 mil milhões de dólares, houve um retorno de 14 dólares. 14. Sabe multiplicar?
Que a vida de investigador, o bolseiro em particular, nunca foi fácil em Portugal isso é um dado adquirido - quer-se rir um bocadinho sr. ministro? Sabia que existe código de atividade profissional para astrólogo (CAE 1316) mas não existe um para investigador? LOL sr. ministro, LOL - mas já se perguntou porque é que apesar de não termos subsidio de férias nem de natal (imagine a nossa confusão em sentir a revolta dos portugueses quando o seu colega sr. primeiro-ministro cortou nos subsídios), de não sermos cobertos pela segurança social, de não fazermos descontos, de termos valores de bolsas que não são revistos há mais de uma década, e outros tantos desajustes com que, com certeza, está familiarizado, continuamos na ciência? já alguma vez pensou nisso? porque, acima de tudo, somos uns sonhadores. Temos que ser sonhadores, temos que ser loucos, acreditar no que não existe, no que não vemos, no que não podemos tocar nem ouvir, temos que ir atrás para perceber porquê, perceber como, temos que questionar, dizer que não, temos que amarrar uma chave a um papagaio e largá-lo no meio de uma trovoada, que deixar as nossas culturas ganhar bolor e ousar pensar que a terra não é plana.
Se o sr. ministro acha que o sonho não tem lugar na “vida real” então tenho pena de si - tal como as crianças acreditam que os ovos vêm do supermercado também o sr. ministro deve acreditar que o seu rato sem fios veio da fnac. Se assim é sr. ministro, está no seu direito, mas então não se envergonhe e, mais importante, não nos insulte.
Sem mais
30 maio 2013
Uma imbecilidade nunca vem só
O tempo passa e (às vezes) entope-se com o tamanho e natureza da palermice alheia. É nessas alturas que apetece deixar escrita a indignação para que a sanidade mental se mantenha e, quem sabe, se torne tudo menos palerma.
Graças aos últimos tempos motivo para ensandecer é coisa que não está em crise - entre um palhaço de um presidente da república, um energúmeno de um primeiro-ministro e um desalento de um clube que perde tudo quanto pode, ainda me vem à cabeça com relativa frequência o que aconteceu há um mês atrás na abertura da queima das fitas do Porto. É que governos vêm e vão, palhaços e futebol idem, mas a dignidade humana, a moral da dignidade humana até, fica por mais que uma semana de bebedeiras ou que a duração de uma história de casos de polícia.
Um homem foi morto, a tiro, por muito ou pouco dinheiro não sei, não interessa, e a festa continuou. Não comento sequer a própria natureza da queima que, resumindo, não passa de uma semana em que milhares se embebedam e uma meia dúzia faz um lucro obsceno. Comento sim a espinha dorsal, ou da falta dela, dos que deste circo fizeram parte; não concebo como se pode fazer a festa em cima de uma morte; não aceito que digam que foram feitos momentos de homenagem entre uns testes de som e uns grunhidos cuspidos ao microfone e não compreendo, não se me ocorre de todo nenhuma explicação, para a normalidade absurda com que tudo se desenrolou.
Resta-me apenas a constatação de que são tão imbecis os que mantiveram a festa como os que lá foram festejar. E quanto a isso nada há a fazer.
Graças aos últimos tempos motivo para ensandecer é coisa que não está em crise - entre um palhaço de um presidente da república, um energúmeno de um primeiro-ministro e um desalento de um clube que perde tudo quanto pode, ainda me vem à cabeça com relativa frequência o que aconteceu há um mês atrás na abertura da queima das fitas do Porto. É que governos vêm e vão, palhaços e futebol idem, mas a dignidade humana, a moral da dignidade humana até, fica por mais que uma semana de bebedeiras ou que a duração de uma história de casos de polícia.
Um homem foi morto, a tiro, por muito ou pouco dinheiro não sei, não interessa, e a festa continuou. Não comento sequer a própria natureza da queima que, resumindo, não passa de uma semana em que milhares se embebedam e uma meia dúzia faz um lucro obsceno. Comento sim a espinha dorsal, ou da falta dela, dos que deste circo fizeram parte; não concebo como se pode fazer a festa em cima de uma morte; não aceito que digam que foram feitos momentos de homenagem entre uns testes de som e uns grunhidos cuspidos ao microfone e não compreendo, não se me ocorre de todo nenhuma explicação, para a normalidade absurda com que tudo se desenrolou.
Resta-me apenas a constatação de que são tão imbecis os que mantiveram a festa como os que lá foram festejar. E quanto a isso nada há a fazer.
07 março 2012
Acknowledgments
Porque sozinho ninguém vai a lado nenhum.
Acknowledgments
”Not everything that can be counted counts, and not everything that counts can be counted.” W. B. Cameron, 1963
Simply put, and as romantic as it sounds, this project would not have been possible without the people that I thank in the following lines. They have been here with me, in many ways, since the very beginning of this journey.
First and foremost, I am deeply grateful to my supervisors Jarle Brinchmann and Catarina Lobo from whom I have learned much more than I can possibly grasp. Catarina has been a part of my path ever since I took my first steps in astronomy, as a young undergraduate. I thank her dedication and support throughout these years, while I tried to find my way through science.
More than a supervisor, Jarle has been a mentor. I feel lucky to have had the guidance of such a brilliant scientist and a wonderful person. The invaluable lessons he has taught me from day one, never settling and always questioning, are the cornerstone of the astronomer I aim to become. His endless patience, enthusiasm and care when teaching me, from the most basic lines of code to the most complex scientific analysis, is something I will definitely nurture for years to come, along with the sense of wonderment he embedded in me. Thank you Jarle.
I thank my parents from the bottom of my heart. They have always, unconditionally, encouraged me to follow my dreams, especially this precious dream of becoming an astronomer. They have taught me where there is a will there is a way, always cherishing my silliest ideas and showing me how to make the best out of them. Thank you for your tremendous support and above all for your inspiration.
I thank Rupes, who has been holding my hand for more than a decade now. He has always been there, challenging me, dreaming with me, every step of the this bumpy way. I imagine that putting up with me when I started rambling about galaxies was sometimes not easy, but you always listened. I treasure how you always found a way to make me smile and a word to comfort me. Thank you for being my safe haven.
My friends have been the backbone of my life, especially in the last few years. Ana and Pedro, my partners in crime, thank you for bearing with me in the most turbulent of times, never leaving my side. I thank you for the care, for the non-sense, for fighting against and with me never scratching our friendship and for those memorable moments – whether on stage, at a dinner table or in the middle of a forsaken road with our helmets on. My Twine Luísa, with whom I have been sharing the ups and downs of this learning process ever since I started my academic voyage, and João, have kept me anchored to what really matters in the later stages of this work. I am eagerly looking forward to fulfill our long-lasting goal of raising a glass in Times Square, as I am to break ice with a spoon for many more winter drinks. I have also been lucky to have made new friends during this time – with whom would I discuss astronomy as passionately as football if not with my Italian friend Daniele? – and to have deepen ties with old ones, seeing them grow inside and outside astronomy - I believe we will be sharing stories over many RENA dinners yet to come. I am truly surrounded by beautiful people, places and stories, including an angel, a warmhearted city, a half-smile and a wonderfully crazy family.
I also want to leave a heartfelt thank you to Doctor Alice Marques. With her help, I am here, now, presenting this work and I am finally able to look back with a smile.
I acknowledge CAUP, my host institution, and I thank Sterrewacht Leiden for the valuable support during my stays in the Netherlands. In particular, I would like to thank Professora Teresa Lago for pointing me towards the right direction ever since I had my very first astronomy class and my collaborator Mercedes Filho with whom I expect to be working and sharing successes in the coming years. I thank in a very special way Joana Ascenso who has been not only a great friend but a teacher, and Joana Sousa, with whom I started this experience a few years ago and have seen our friendship grow much more beyond astronomy. Along with Joana and Joana, I also shared my office with Rui, Bruno and Jorge. I will certainly miss our time together, our conversations, our shared fears and our unbeatable certainties. I also thank my very good friend Nelma for her support in critical moments, being a right-hand throughout this time.
Without music, life would be a mistake, Nietzsche once wrote, and indeed music, like astronomy, is part of what I am. I thank Coral de Letras da Universidade do Porto for allowing me to sing some of the best music ever composed and for giving me great moments of joy after a day’s work. I would also like to thank my good friend and composer Daniel for one of the most exquisite experiences that came out of this thesis: a music made from Figure 2.16. Inspiration definitely comes in many forms, shapes and colors. Just like galaxies.
The last few years have been nothing short of a roller coaster ride – they have taught me more about science, myself and others, than I could possibly imagine. I cannot wait for the rides that are still yet to come.
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